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O Tumor Hepático da Micas

No final de mais um Verão, podemos voltar a respirar um bocadinho e até temos uns minutos para escrever sobre o caso do Tumor Hepático da Micas.

Para a equipa da Vet Póvoa, cada patudo é especial e cada caso é um caso, no entanto por limitação de tempo não podemos escrever sobre todos. A história da Micas é similar a tantas outras histórias do nosso quotidiano, no entanto escolhemos a Micas, e ainda não sei bem porquê…

 

Micas no campo

É possível que tenha sido porque a Micas tem a particularidade de pertencer não só à grande família da Vet Póvoa, mas também à minha própria família.

De forma algo sub-consciente poderá até ter sido ela a fonte de inspiração para o nome e logotipo do nosso novo projeto (Dona Micas). Pelo menos, encaixa na perfeição no perfil da nossa cadelinha pequenina, feliz e de bem com a vida, muito dona do seu nariz e apreciadora de produtos gourmet.

Podemos então afirmar que, com a maturidade que a idade já lhe dá, a Micas é uma autêntica “lady”, uma verdadeira “Senhora Dona Micas”.

Antes do Verão, tudo estava bem na vida da Micas, pertence a uma família numerosa, constituída por outros cães, humanos adultos e crianças para brincar. Mas um dia, essa terrível doença designada genericamente de cancro, a tal que não escolhe idades, nem sexos, nem nacionalidades, nem etnias, nem feitios ou personalidades, nem estratos sociais e que em boa verdade também não escolhe espécies, nem raças, bateu-lhe à porta.

O que começou apenas com um ligeiro cansaço e uma ligeira diminuição do apetite, tão típicos destas idades mais avançadas, foi diagnosticado como uma massa hepática de grandes dimensões. O fígado da Micas estava severamente afetado. Apesar de ser uma “Alfacinha de Gema”, a Micas lá veio de Lisboa até Coimbra para ser operada na “clínica dos primos”, sempre com a comunicação permanente entre a clínica veterinária onde é assistida regularmente e a Vet Póvoa.

Apesar do tumor da Micas ser muito silencioso, tendo estado algum tempo sem qualquer tipo de sintomas (tal como a grande maioria deles), a massa já tinha grandes dimensões… mas as boas novas chegaram logo a seguir… Com a ajuda dos nossos equipamentos (nomeadamente das máquinas para laquear – saiba mais aqui), o tumor foi dado como operável, tendo sido retirado logo de seguida.

A Micas reagiu muitíssimo bem e até foi de férias em Agosto. Dividiu-se entre o campo e a praia e andou muito feliz.

As más notícias voltariam logo depois: O tumor era maligno, e embora, aparentemente, tivesse sido retirado na sua totalidade, tinha capacidade de invadir outros tecidos ou orgãos (metastizar).

Posto isto, reunimos com a família mais próxima da Micas e em conjunto decidimos iniciar um protocolo de quimioterapia ligeira, de modo a prolongar o seu tempo entre nós, tentando sempre preservar a sua qualidade de vida.

No momento presente a Micas está bem de saúde e muito bem disposta e feliz.

Micas depois da cirurgia

Talvez tenha escolhido para escrever sobre este caso por ser a Senhora Dona Micas, que conheço desde que nasceu e que assisto sempre que tem um problema de saúde complicado, ou talvez por ter sido um caso grave que está a correr muitíssimo bem, ou talvez por ser um dos cancros que conseguimos vencer, pelo menos para já.

Os mais corajosos podem ver detalhes da cirurgia aqui.

Para a próxima que tiver uns minutos livres da correria diária que levo, talvez possa escrever sobre um Boxer com um hemangiossarcoma visceral que me morreu nas mãos há 15 dias. Boxer esse que entrou na Vet Póvoa ainda bebé e do qual nos despedimos ainda antes de completar 8 anos. Boxer esse que passou vários dias a lutar contra um cancro altamente agressivo, mas que nos recebia diariamente com uma dança de alegria.  Boxer esse que entregamos hoje as cinzas à família. Ou sobre um São Bernardo que sofreu uma metástase pulmonar de um sarcoma retirado anteriormente. Ou quem sabe sobre a minha própria cadela que também morreu de hemangiossarcoma.

Ou talvez possa escrever sobre as dezenas de membros, amputados com osteossarcomas, as centenas de nódulos cutâneos ou sub-cutâneos retirados, os tumores da mais diversa natureza que nos vão passando pelas mãos todos os dias e que em alguns casos são extraordinariamente difíceis de diagnosticar ou até sobre os já milhares de cancros da mama que operámos nos 13 anos em que aqui estamos.

Para os que se perguntam por onde ando por não me encontrarem tantas vezes nas consultas, já ficam a saber que estou atrás do muro (leia-se sala de cirurgia), a lutar contra estas e outras doenças danadas.

Já à questão sobre as causas do aumento das doenças cancerígenas, acredito que poderá ser multifatorial, no entanto o facto de continuarmos a contrariar a seleção natural e conseguir combater eficazmente cada vez mais doenças que no passado eram a causa de mortes prematuras.

Assim sendo, vejo o cancro como um “efeito secundário” dos avanças da medicina. Enquanto a esperança média de vida continuar a aumentar deveremos estar no bom caminho.

Às vezes ganhamos, outras vezes perdemos. Mas não desistimos…

 

Hoje decidi escrever sobre a Micas, talvez por ser o exemplo perfeito dos avanços da medicina e cirurgia veterinárias a que temos assistido nos últimos anos, por nos dizer que muitas vezes podemos ganhar a guerra contra essa doença silenciosa que se vai alastrando, ou apenas por ser um enorme caso de esperança.

 

Ricardo Almeida

Diretor Clínico da Vet Póvoa